quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Comer, amar e rezar



Há pessoas que gostam de cozinhar. Realmente curtem todo o processo envolvido, desde ir a feira ou mercado e dedicar um bom tempo a escolher os produtos, buscar melhores preços, pechinchar por descontos. E sentem prazer em preparar os alimentos todos, criando, inovando ou mesmo seguindo receitas à risca. Essas pessoas amam fazer isso, e para elas esse tempo é um ganho em suas vidas, pois alem de envolver uma necessidade (alimentação) também é fonte de prazer, satisfação, lazer, entretenimento.
Contudo, há quem não goste de nada disso, ou de algumas partes deste processo. Há quem deteste ir ao mercado e deixa para fazer isso uma vez or mês, para evitar o aborrecimento constante. Há quem não goste de cozinhar e o faça por obrigação ou falta de escolha, e prepara o que há de mais básico, preferencialmente em grandes quantidades para congelar e passa a semana apenas requentando a comida para não precisar gastar tempo com o preparo de refeições. Essas pessoas gostariam de ter mais tempo para fazer outras atividades, e por isso tentam economizá-lo da forma que lhes for possível. Mesmo que isso inclua consumir muitos industrializados, processados ou fast food.
E além disso, há quem não tenha escolha. São as pessoas que fazem compras e cozinham, pois além de si precisam alimentar sua família. E em nossa sociedade esse papel é claramente relegado às mulheres, especialmente as mães. Independente se elas se encaixam no primeiro ou no segundo grupo, elas tem que fazer.
Sim, há famílias onde a participação de outras pessoas nesse processo é ativa e real. Mas, fazendo um apelo estilo Mike Moore, "saia da sua bolha!". A realidade da maioria das famílias do planeta, não corresponde a afirmação acima.
Podemos mudar isto, com tempo, paciência, ativismo, militância, conscientização, educação, etc. Mas vai levar tempo. E até lá, vamos considerar que pode ser libertador entender que se você não pertence ao primeiro grupo de pessoas que citei acima, então não tem nada de errado em por vezes fugir do ideal da alimentação da família e optar por algo que você, e só você, considere mais fácil e prático para sua vida naquele momento.
Obviamente que não podemos esquecer que a saúde das crianças é importante e primordial, e que por isso deve ser cuidado, especialmente via alimentação adequada. Isso não significa, porém, que vez ou outra uma comida que não seja "de verdade" vá ser extremamente prejudicial. Especialmente se o tempo economizado no preparo daquele alimento foi utilizado para dar atenção, carinho e amor à família, de outras formas.
Portanto, sejamos cuidadosos, sim, com o que comemos e oferecemos. Mas não nos deixemos cair em desespero na busca por atingir um ideal que não corresponde a nossa realidade, amém!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Dicas de como entreter o bebê





Olá, o Maternando e Andando está de volta. A gente sabe como é complicada esta vida de mãe que tenta ser blogueira, mas tem que cuidar dos filhos, da casa, dos bichos, de si mesma e ainda dar um jeito de ganhar alguma grana pra que tudo isso seja plenamente possível, não é mesmo?

Contudo, de vez em quando a inspiração aparece por aqui e sobra um tempinho enquanto as crias almoçam pra escrever um texto recheado de dicas super legais para entreter os filhos e ser possível ter uma vida além de cuidar deles. Vem comigo que eu te mostro tudo!

A ideia para este post surgiu com uma polêmica em um dos muitos grupos maternos do Facebook (você com certeza conhece pelo menos um) e inspirada por esta polêmica eu fiz uma pequena enquete em meu perfil pessoal. Será baseada neste enquete que enumerarei as dicas, tentando abranger o todo tipo de mãe e necessidade que há, ok?

A pergunta que eu fiz foi a seguinte: "O que vocês fazem ou faziam para entreter e distrair um bebê entre 3 e 10 meses, quando precisavam realizar outra tarefa (trabalhar, comer, ir ao banheiro, cuidar de si ou da casa ou de outra criança)? O que funciona/va para vocês?"

As respostas foram bem diversas, desde "Nada que eu faça dá resultado!" até "Faço tudo usando sling*." Mas como a ideia é dar dicas e sugestões que solucionem uma eventual dificuldade que você tenha com essas duas possibilidades citadas acima, vamos expandir mais sobre as outras respostas:


Deixar no carrinho com brinquedos - Muitos bebês se distraem por vários minutos se deixados no carrinho de bebê com algum brinquedo que gostem muito, especialmente se fizer ruídos, tiver textura e puder morder. Não necessariamente o bebê via ficar horas sentado ali no carrinho, mas alguns minutos com certeza você consegue ganhar entre dar colo e amamentar.




Tapete de atividades - esta é uma opção muito legal e segura, que costuma funcionar bem. Os tapetes de atividades são facilmente encontrados a venda em lojas de artigos infantis e para bebês, além de poderem ser comprados também de segunda mão em bazares e brechós. Na impossibilidade de comprar, é possível improvisar, usando um móbile (que você mesmo pode fazer) pendurado em alguma estrutura.



Lugar fechado com brinquedos - desde que seja um local seguro, sem mobília, tomadas ou objetos que ofereçam risco, basta espalhar alguns brinquedos pelo chão e permitir que o bebê interaja com eles. Pode levar a um bom tempo de distração. A maior dificuldade seria de monitorar o bebê.


Cercadinho - para breves períodos de tempo é válido. Da mesma forma que o ambiente fechado, o cercadinho é uma opção segura, unido a brinquedos pode entreter o bebê por bastante tempo. O único porém seria não deixar o bebê o tempo todo ali preso, a dica aqui é se o bebê está confortável e feliz, pode deixar, se ficar inseguro e chorando, é hora de tirá-lo de lá.

Cadeirinha de balanço ou vibratória - essa cadeirinha é própria para bebês, é seguro e confortável, mas limita os movimentos, deve ser usada com bastante moderação, ara casos em que o bebê fique seguro e confortável nela. Vale a mesma regra do cercadinho.

Tapete de EVA - essa é uma opção segura e confortável também, que pode amortecer em caso de quedas, aliada a brinquedos espalhados é uma opção bem legal para o bebê. Se adquirir um tapete desses dê preferência ao que desmonta em pedaços menores, facilitando que você transporte o tapete para o ambiente em que estiver, podendo monitorar bem proximamente o bebê enquanto realiza alguma outra atividade.

Sugestões de brinquedos para deixar com o bebê enquanto estiver em algum desses lugares: leve, mordível, atóxico, que tenha textura interessante e que se batido no chão ou parede ou outro brinquedo faça ruídos legais. Bebês estão descobrindo o mundo e manipular objetos, explorando-os é uma das coisas que mais prende a atenção dos pequenos por períodos maiores de tempo. Não é necessário muito investimento, potes, pratos, copos e talheres plásticos, por exemplo, costumam ser sucesso. Objetos de madeira também.

Então é isso, essas são as sugestões baseadas em experiências bem sucedidas de outras mães. Lembrando que essas dicas podem não funcionar para seu bebê, e ele ser mais dependente de colo do que outros, e tudo bem! Cada bebê deve ser atendido dentro de sua individualidade, sempre com respeito. E ressalto, tudo isso só é possível quando o bebê sente-se seguro e confortável, portanto, atender suas necessidades quando solicitado é a melhor maneira de garantir que ele assim se sentirá. Essa fase da vida passa rápido, e é provavelmente a única em que posso afirmar: se der pra deixar pra depois, deixe. Se der pra fazer amanhã, faça amanhã. Se tem alguém para quem pedir ajuda ou dividir responsabilidade, peça! Divida! Se tudo o que o bebê precisa para ficar tranquilo e satisfeito e seu colo, dê colo. E na hora que bater o cansaço e o desespero, vem chorar com a gente, nosso ombro está a disposição!



*Sling, para quem não conhece é um tecido usado em forma de amarrações no corpo ou com argolas, para carregar o bebê. São ergonômicos, práticos e muito úteis, conheça mais sobre eles
aqui.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Amamentação após os 2 anos: prolongada ou continuada?

A Organização Mundial e Saúde, entre outros órgãos, recomenda que a amamentação seja feita exclusivamente por 6 meses ( o que significa não oferecer nenhum outro alimento ou líquido neste prazo, que não seja o leite materno, exceto em casos em que haja necessidade de complementação com formula artificial em casos raros) e que prossiga até pelo menos os 2 anos de idade, podendo superar este prazo em qualquer quantidade de tempo, uma vez que fica em aberto na frase "2 anos ou mais".

Entende-se por isso, que até os 2 anos, a amamentação é a norma, passando disso ela passa a ser prolongada ou continuada, dependendo do interlocutor e de seus conhecimentos quanto a produção científica ou etimologia e a força que carregam as palavras e seus significados.


Aqueles que a chamam de amamentação prolongada, defendem que este é o termo científico, que assim trabalham os pesquisadores da área, e que portanto acaba tornado jargão do meio. Quando se passa tempo lendo, pesquisando e produzindo artigos referentes à amamentação para além dos 2 anos de idade do bebê, é fácil entender que o termo ainda hoje se encontre em uso.

Porém existe uma militância que busca resinificar esse período da amamentação que se estende além do prazo fixado como sendo o básico ideal, e propõe a adoção de outro termo: amamentação continuada. Que seria o hábito de continuar mamando, mesmo já tendo superado a idade mínima para um desmame.


Pensando sobre este assunto, conclui que essas denominações não fazem sentido. Não existe amamentação prolongada, nem continuada. Amamentação é amamentação. Se falamos em desmame natural, no tempo da criança, ela não prolongou a amamentação, tampouco continuou a amamentar depois do tempo, ela simplesmente mamou até quando quis, até quando precisou e ponto.

Portanto, independente da idade da crianção amamentada, ela continua sendo lactente. Os motivos que a levam a mamar, sejam nutricionais, emocionais, físicos ou comportamentais não deveriam ser considerados diferentes e classificados diferentes, seja para a ciência, seja para o ativismo.  Mesmo que saiba-se existirem demandas diversas para que esta amamentação ocorra, pensemos que a OMS deixa em aberto sua recomendação, justamente por não ser relevante quando a amamentação acabe, desde que ela pelo menos tenha durado cerca de 2 anos. A única ressalva é essa: desmames feitos antes desse tempo, são considerados precoces.

Mas essa é só minha opinião, cada um que continue usando os termos preferidos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Relato de Parto Humanizado Hospitalar - Luisa

Hoje fiquei triste, ao tentar acessar meu antigo Tumblr, descobri que minha conta foi cancelada ou suspensa, e meu blog excluído. Com isso, perdi diversos textos e relatos tão caros a mim, que eu burramente não tinha feito backup.

Contudo em uma busca desesperada por entre meus aruqivos encontrei o mais importante deles: O relato de Parto da Luisa. Por isso, resolvi repostar. Segue:




Minha mãe teve 3 cesáreas. Uma por mecônio e sofrimento fetal, outra por "já" estar a 4 horas em TP e "só" ter dilatado 4cm e a terceira por já ter 2 cesas anteriores.

Eu sou a segunda! Para minha mãe, todas foram necessárias, ela nunca discutiu ou pensou o contrário, mas também nunca se informou sobre as reais indicações de cesáreas. Para ela o que um médico diz é sempre correto, ela nunca acreditou que um profissional que cuida de algo tão delicado (a vida e a saúde da gente) pudesse enganar, manipular, etc. por interesse próprio. Porém, ela sempre odiou suas cesáreas. Sempre disse que a recuperação é horrível, e que ela sentia inveja de quem conseguia ter parto normal.

 Ela sempre conta uma historinha: durante sua recuperação ela tinha que ficar lá deitada, enquanto as mães do PN estavam todas no corredor batendo papo, e ela morrendo de vontade de ir lá, então ela pedia para minha avó, que era sua acompanhante, para ir ouvir as histórias e vir compartilhar com ela. E eram histórias engraçadas em sua maioria, aí quando minha avó as contava a minha mãe, essa pedia: "Para, pelo amor de Deus, que quando eu rio dói tudo! Parece que estão me abrindo de novo!"

Com isso, minha mãe sempre me recomendou que eu tentasse ter parto normal. Ela sempre dizia: quem sabe você não tem a sorte da sua tia que teve 4 PNs, todos muito fáceis!

Ao longo da minha vida, conheci muitas mulheres que tiveram cesárea por vários motivos: não tinha passagem, não dilatou, passou da hora! E eu pensava comigo mesma: deve ter um jeito de evitar tudo isso, não é possível que todo mundo tenha defeito!

Também conheci muitas mulheres que tiveram PN. E quando elas me contavam como foi eu sempre achava estranho. "Tem que fazer lavagem intestinal". Por que? "Para não fazer cocô na hora do expulsivo e sujar a cama a criança e quem sabe até o médico". Eu só pensava, não faz sentido! Se fizer cocô, limpa, ué! E se não fizer o cocô? Ninguém pensava nessa possibilidade?

"Tem que fazer o pic (episiotomia)". Por que? "Porque senão a criança não passa, ou se passar rasga tudo, fica horrível lá embaixo!" E mais uma vez eu pensava: Não faz sentido, como pode a criança não passar? Como pode ser tão defeituoso o corpo de uma mulher a ponto de não conseguir parir sem se ferir, a criança que ele mesmo produziu?

Enfim, eu me questionava, questionava quem falava essas coisas, mas nunca fui atrás de perguntar a um médico, ou pesquisar em algum livro, etc. o porquê disso tudo. Até que eu engravidei. Aí bateu aquela preocupação: O que eu posso fazer para não precisar ser cesárea? E se for PN, será que dá pra evitar lavagem, pic, etc?

Aí começou a minha tremenda sorte! Primeiro que meu o ginecologista que me acompanhava há mais de 10 anos era Mastologista e não Obstetra. Então, eu precisava encontrar outro médico. Pedi a ele, que era de um estilo de médico muito bacana, que eu gostava muito, não intervencionista, que me indicasse um Obstetra. Para minha supresa, ele me perguntou se eu queria PN ou Cesa. Eu pensei: Como assim? Pode escolher? Mas nem falei nada e respondi prontamente: PN, claro!

Ele então me passou o nome de 2 médicos: Rogério e Carla, que eram os únicos que faziam PN em São Carlos, onde eu morava. Again: Como assim, Bial? Tem médico que não faz PN? Como é possível?

Bom, eu marquei consulta com o Dr. Rogério. Já estava de aproximadamente 8 semanas. Já fui pronta pra dizer a ele que queria meu parto na água, sabe, humanizado? Mal sabia eu que eu nem sabia o que significava isso! E estava pronta para não voltar mais se ele me dissesse que não fazia parto na água, humanizado!

Como eu não tinha vínculo nenhum com nenhum obstetra, era fácil para mim pensar em trocar. Era fácil pensar em me consultar com vários até achar um que topasse me dar o que eu queria! Um parto sem pic, sem lavagem e na água! Sim, porque no começo era isso o tudo que eu queria!

Bom, quando eu disse isso pro Rogério, ele abriu um sorrisão do tamanho do mundo, e com uma expressão de alívio e felicidade me perguntou: E a doula? Já contratou?

Oi? Come again? Doula? O que é isso? "Doula é uma profissional importantíssima em um parto natural, humanizado! Ela te ajudará a enfrentar o trabalho de parto, minimizando a necessidade de intervenções. Ela ficará com você na sua casa, te monitorando até chegar a hora de ir pro hospital."

Gente, que felicidade era esse médico! E o melhor, ele não tem aquele ar carrancudo de deus-todo-poderos que a maioria dos médicos têm. Ele é espirituoso, brincalhão, super bem-humorado! Ou seja, minhas consultas duravam mais de hora (para desespero da secretária e assistente dele, que tinha que lidar com as outras pacientes que iam acumulando na sala de espera). Mas ele mesmo não se importava com o tempo. Ele gostava de bater papo, contar causo, especialmente os partos que já tinha acompanhado, tanto no SUS, quanto no convênio.

Peguei então a indicação das doulas e fui feliz para casa, ansiosa para contar para meu marido que eu teria meu parto na água, sem pic e sem lavagem tão desejado!

Percebi que uma das doulas já era minha conhecida, irmã de uma grande amiga, e entrei em contato com ela. Achei que o fato de já a conhecer me facilitaria criar uma intimidade para o tal acompanhamento. Fizemos algumas consultas, onde ela me explicava sobre a fisiologia do parto, sobre a importância do empoderamento para parir, sobre as dificuldades do sistema obstétrico brasileiro, sobre as intervenções feitas de rotina mesmo sem necessidade, e me perguntou quem era meu obstetra. Dependendo da minha resposta, ela ou me aconselharia a procurar outro médico ou outra doula. Mas ela gostou de saber que estava bem acompanhada pelo Rogério.

Minha gravidez seguiu tranquila, meus exames todos normais. Meu único problema era que meu marido estava de mudança para a África do Sul. A princípio nossa idéia era de que eu fosse acompanhá-lo, e chegamos a pesquisar sobre partos, custos, etc. na África do Sul. Mas recebemos um grande banho de água fria: o plano de saúde contratado na África não cobriria nossas despesas com pré-natal e parto por ser uma condição pré-existente à contratação do plano. E no Brasil, tínhamos o plano que cobria tudo. Ficamos divididos por um tempo, mas achamos que seria melhor eu ficar, continuar meu acompanhamento com o médico e a doula brasileiros, afinal não sabíamos se teríamos a mesma sorte de encontrar profissionais humanizados por lá, já que as únicas pessoas que conhecíamos até então que tiveram filho em solo africano fizeram uma cesa eletivona! (Sim, na África do Sul também há uma grande parte das mulheres que escolhe fazer cesárea, as intervenções também são de rotina, mesmo sem necessidade, e o atendimento obstétrico e pré-natal é tão assustador quando no Brasil).

Por convite da Jamile, minha doula, passei a frequentar as reuniões do GAPN, onde conheci a Dra. Carla, a enfermeira Shirley e a Doula Vânia, que depois vieram a participar do meu parto! Além disso, entrei para a comunidade GPM no Orkut onde me informei muito, me indignei bastante com a nossa realidade obstétrica, e tomei conhecimento dentre outras coisas, do plano de parto. Com ajuda de todos aprendi tudo o que podia acontecer comigo durante o parto, o que eu não queria de jeito nenhum e o que fazer para previnir ou evitá-los. Não só os procedimentos intervencionistas para comigo, como também os procedimentos neonatais, também feitos de rotina e tão desnecessários quanto.

Decidi, então, incluir minha filha no plano de parto. E marquei uma consulta com uma pediatra que muita gente me indicou. E conversei com ela sobre tudo o que eu não queria, de jeito nenhum que fosse feito na minha filha. Não queria vitamina K injetável, se podia dar oral; não queria nitrato de prata nos olhos já que não tenho gonorréia e clamídia, não queria esfregação e aspiração, a menos que fosse necessário. Banho só depois, sem urgencia, etc. A pediatra me explicou porque tudo isso era feito, mas fui firme! Disse a ela que não queria negligenciar a saúde da minha filha e que se tudo se mostrasse necessário, aí sim faríamos alguma coisa. Ela acabou concordando e respeito minha vontade.

As semanas foram passando, a barriga foi crescendo, tudo continuava muito bem comigo e com a bebê: Luisa. O nome foi escolhido em consenso, por causa da música Luiza do Tom Jobim que eu adoro!! Mas colocamos com "S" para soar bem em espanhol também (língua materna da família do meu marido). Fiz a besteira de dizer a DPP real para a família toda. Ou seja, chegou o fatídico dia 20/11/09 e todo mundo me ligava perguntando se já tinha nascido. NÃO! "Nem sinal?"NÃO! "Então você vai marcar a cesárea?" NÃO!!!!!! "Como não? Vai acabar matando sua menina aí dentro do seu útero assassino, bomba-relógio!"

Resolvi desligar o celular e não atender mais o telefone de casa. E se mesmo assim alguém dissesse alguma coisa ou eu fazia cara de paisagem, ou eu mandava logo praquele lugar. Estava sem paciência para essa pressão toda. Mas no fundo estava tranquila. Eu sabia quando tinha engravidado. Sabia o dia que tinha feito relação sem proteção, e sabia que tinha ovulado 3 dias depois. Então, pelas minhas contas minha DPP estava 2 semanas adiantadas. Eu esperei tranquilamente!

41 semanas! O desespero da família beirava o insuportável! A desinformação das pessoas beirava o rídiculo. Minha sogra e minha cunhada pressionavam meu marido para a loucura de continuar esperando. Ele estava comigo, 100%. Em nenhum momento passou pela cabeça dele que algo estava errado. Assim como eu e a equipe que nos acompanhava, ele confiava no processo!

Jamile me ligou e disse que não poderia me acompanhar. A defesa do doutorado dela calhou de cair na semana que minha filha provavelmente nasceria, e ela talvez não estivesse na cidade, e também estaria bem comprometida com a apresentação, etc. Me passou o contato da Vânia. Marcamos de nos conhecer e eu me apaixonei! A Vânia é muito parecida comigo, e nos demos bem logo de cara. Na verdade tanto eu quanto ela tivemos a impressão de já nos conhecer, mas nunca descobrimos de antes (e não era do GAPN, porque quando eu a vi lá pela primeira vez já tinha tido esta impressão).

41 semanas e 6 dias! Nenhum sinal de TP. Só as contrações de BH. Sem dor, só endurecimento pélvico. Eu caminhava pra caramba e tomava um monte de chá de canela, pensando que ia ajudar a entrar em TP. Namorava bastante também. Mas não causava nenhum efeito. Fomos ao Centro Espírita que frequentávamos para uma reunião informal, uma festinha de fim de ano. Comi bastante, conversei bastante! E na hora que estava indo embora, cheguei a comentar sobre os chás e as caminhadas com uma moça. Ela olhou dentro dos meus olhos e me disse: "Não precisa fazer nada! Ela virá, no tempo dela ela virá!"

Aquilo me relaxou tanto, que cerca de 2 horas depois eu sentia as mesmas contrações em intervalos menores, até ficarem de 5 em 5 minutos, bem breves, sem dor. Liguei para a Vânia,e  ela me disse para ligar de novo quando já estivessem mais intensas, doendo mesmo há uns 40 minutos. Fui para casa, tomei um banho e me deitei para dormir com meu marido. Acordei com uma contração doloridinha, olhei as horas: 3:00. Voltei a dormir. Acordei de novo com outra contração doloridinha: 3:05. Uau! Acordei meu marido e disse a ele que tive 2 contrações doloridas em 5 minutos.

Ele me perguntou o que eu queria fazer. Eu disse que queria levantar, trocar de roupa e ir pra sala. Fomos. Na sala ficamos sentados no sofá, batendo papo e marcando as contrações. Estávamos muito felizes! Tinha chegado o momento no dia exato em que completei as 42 semanas! Eu tinha lido vários relatos de parto e sabia que podia demorar bastante tempo. Eu estava preparada para ficar naquela por horas, dias talvez. Uns 45 minutos depois ligamos para a Vânia. Rafael, me marido, lhe explicou como estavam as contrações e ela disse que já estava vindo. Um tempo depois, meu pai acordou. Ele iria viajar para São Paulo bem cedo. Se assustou quando nos viu na sala e perguntou se estava tudo bem!, E sim estava, era a Luisa chegando! Ele ficou feliz e nos desejou boa sorte. Na hora em que estava saindo de casa se esbarrou com a Vânia no elevador. Vânia chegou carregada, com bola suiça, bolsa de água quente, banheira inflável emprestada da Jamile, etc.

Encheu a bola e eu fiquei brincando, dando pulinhos, dando risada e me concentrando na hora das contrações. Vânia ensinou uma massagem para o Rafael e foi esquentar água para a bolsa. Perguntou se estávamos anotando o tempo de duração das contrações, mas nós esquecemos disso. Sabiamos de quanto em quanto tempo elas vinham, mas não tínhamos idéia de quanto tempo duravam. Ela disse que era porque estavam sendo rápidas. Rimos!

Vânia nos deixou a sós na sala e ficou na cozinha conversando com minha mãe, que estava bem nervosa. Ela nunca tinha passado por um parto, então a idéia toda, mesmo que ela mesmo tivesse me aconselhado a buscar isso, era assustadora!

O Rafael tinha colocado ao meu lado uma bandeja com petiscos e água de coco que compramos especialmente para a ocasião, mas eu não estava com muita fome ou sede. Esse foi meu erro, devia ter me alimentado melhor! Senti uma tontura, era minha pressão caindo, para variar. Tenho um histórico de desmaios pro queda de pressão, especialmente relacionados a dor. Então eu saí de cima da bola e deitei-me no sofá. Ali eu fiquei, dormia nos intervalos das contrações, acordava com as dores, começava a gemer quando elas atingiam um ápice e parava antes que elas fosse completamente embora.

Isso confundiu minha doula. Eu sempre fui resiliente a dor, nunca fui de ficar gemendo ou reclamando muito, só quando apertava mesmo! Então ela achava que minhas contrações estavam com intervalos maiores e duração menores do que realmente estavam. MAs na hora do TP como que você lembra de uma coisa dessa para explicar pra doula que não sabia disso? Pois é!

De repente me deu uma vontade de louca de fazer força e empurrar. Eu chamei a Vânia e disse isso a ela. Ela me falou: "Não faça! É muito cedo!" Eu me lembrei então do video do parto da Noeli Vinaver, uma parteira mexicana, em que ela relata isso: que sentiu vontade de fazer força, mas como parteira experiente sabia que era cedo, então ela concentrou sua força em assoprar. Eu comecei a fazer o mesmo! E assoprei como louca!  Mas a vontade não passava, e eu falei de novo pra Vânia.

Ela achou melhor ligar para a Jamile. Tinha medo de me levar para a maternidade e ser cedo demais e eu acabar numa cascata de intervenções que eu não queria. Jamile chegou rápido, mas para mim parecia que uma eternidade tinha se passado.Ela fez uma ausculta e viu que tudo estava bem com a Luisa. Perguntou se podia fazer um toque para termos certeza da situação, eu falei que sim. Pasmem! Estava de 8 cm já! Eu não tinha noção de quanto tempo tinha passado, mas mesmo para mim pareceu rápido.


Jamile então me disse: "Se você quiser ir para a maternidade, agora é a hora!" Ela fez de propósito. Sabia que lá no fundo eu tinha vontade para um Parto Domiciliar. E eu estava ali em casa, tranquila, com uma doula e uma parteira experientíssimas. Com banheira, com tudo bem, perto de nascer, etc. Mas eu não ouvi o "SE". Eu ouvi quase uma ordem: "ir para a maternidade, agora é a hora!". Saí correndo para trocar de roupa de novo (estava de top e short, e estava frio na rua), pegar a mala da maternidade e ir. Até chegar no carro eu achei que ia parir umas 2 vezes. Tamanha era a vontade de empurrar e a força das contrações. A dor era suportável, nem achei tão ruim. mas a força do meu útero contraindo tomava conta de todo o meu corpo.

Chegamos na maternidade em 5 minutos. Morávamos perto. Para mim pareceu que durou horas todo o trajeto, e parecia que o Rafael estava correndo a quase 100Km/h, mas ele foi a 20Km/h, com medo de algum acidente, etc. Na recepção perguntaram se precisava de uma cadeira de rodas. Eu, ainda no carro, respondi que sim, que já não conseguia mais ficar em pé, muito menos andar. Na verdade eu estava lá no carro fazendo força e empurrando! Sentia que se eu me levantasse fosse andando, minha filha nasceria no corredor mesmo.

Chegou a cadeira, e esperaram um intervalo entre as contrações para me tirarem do carro e me colocarem na cadeira. O intervalo não veio. E eu fazendo força. Me tiraram assim mesmo, e me levaram para o quarto. Tínhamos pagando antecipadamente para usar um apartamento, assim não teríamos problema com número de acompanhantes, montagem de banheira, etc. Mas, no dia, não tinha apartamento vago, então precisaram mudar uma moça que já tinha tido filho de quarto. A colocaram em alojamento conjunto que era o que o plano dela cobria (a maternidade tem a política de sempre colocar as mulheres em quartos individuais, quando isso é possível, independente do tipo to plano).

Cheguei no quarto, e a acompanhante da mulher estava no banho, coitada! Bom eu cheguei e reconheci a Shirley do GAPN. Era plantão dela, fiquei muito feliz, pois ela é um amor de pessoa, e uma profissional incrível e super humanizada (como todos que me atenderam)!  Ela me reconheceu também e disse: "É você, meu bem!" Me levou para o quarto, me mostrou a banqueta e me deu a camisolinha do convênio. Eu tirei a roupa e vesti a camisolinha, sem nem perceber que a acompanhante da ex-ocupante do quarto estava saindo do banho. Sentei na banqueta e pronto, fiquei completamente indiferente a tudo e a todos. A Shirley me explicou que precisava fazer um toque pois era procedimento de internação. Eu pedi a ela que esperasse passar a contração, e assim ela o fez. Ela nunca me disse a quantas estava a dilatação, mas pela cara dela e pela insistência dela para as auxiliares ligarem para os médicos porque já estava nascendo, eu conclui que a dilatação era total e a cabecinha já estava para coroar.

Chegou o Rogério e meu marido e ele começaram a fazer piadas, sobre TUDO! Eu tinha pedido isso a eles! Queria rir, para relaxar e ajudar no processo. Aquela coisa da Ina May Gaskins "relaxa em cima, relaxa embaixo". bom, eu não lembro de nenhuma piada. Lembro que eu sorria a cada uma delas. Mas eu estava na partolândia! Perdida dentro de mim mesma, me encontrando comigo e com minha filha, e completamente concentrada.

Foi aí que senti uma pressão no períneo, próximo ao anus. Pensei: Droga, vou fazer cocô, e pela pressão vai ser um daqueles!". Avisei a todos, me falaram que tudo bem, podia fazer, que limpariam. Mas eu fiquei um pouco encanada. Foi aí que minha ficha caiu que não era um cocô, era minha filha. Senti o círculo de fogo, e nossa! Como ardeu! A impressão que eu tinha era que meu clitoris ia arrebentar, e voar na testa do Rogerio. Isso me fez rir. RElaxei de novo. Senti minha filha fazer a rotação para encaixar melhor. Gente, o que foi aquilo? Que sensação maravilhosa! A cabeça começou a sair e ui! Uma laceração. E ui! Outra! Uma de cada lado do períneo. Pensei, bom saiu a cabeça, agora vai passar um tempo e vai sair o resto do corpinho. Foi quando olhei para a frente e vi minha filha nas mãos do Rogerio! Como assim? Já nasceu? Ela nasceu com a bolsa íntegra, quase sem líquido e com o cordão enrolado no pescoço, no tronco, nas pernas, etc.

Mas nasceu ótima! Apgar 9/10. O único problema foi que como nasceu muito rápido, ela não teve aquele tempo para o canal comprimir o tronco e ajudar a expelir todo o líquido dos pulmões. Rogerio me entregou ela, e eu fiquei ali ohando pra ela e pensando: Agora fudeu! Sou mãe! Que que eu vou fazer? Mais risadas! Saiu o mecônio, todo em cima de mim! Mais piadas! Rafael foi cortar o cordão e o Rogério o alertou: mas cuidado, esse é meu dedo, hein? De repente, Vânia perguntou: alguém viu que horas nasceu? Eu olhei no meu relógio de pulso (sim eu pari de relógio de pulso) e disse são 7:15 agora! E ela calculou que tinha nascido há uns 3 minutos, tempo que tinha o vídeo que ela estava fazendo. Então nasceu Luisa às 7:12 do dia 04/12/2009. Linda, gorda, enorme! 3,465Kg e 48,5cm. Era o maior bebê daquele dia na maternidade (vocês podem imaginar que todos os outros 12 nasceram de cesáreas eletivas).

Luisa ainda estava engasgando e não conseguiu mamar de imediato. A pediatra então disse que precisava levá-la para aspirar. Eu disse ok. Naquela hora eu nem conseguia raciocinar. Se me falassem que ia fazer todas as intervenções que eu tanto lutei lutei para não ter, naquela hora eu só responderia ok. Por isso, foi tão importante combinar com a pediatra antes. E foi muito bacana porque ela respeito e cumpriu todo o combinado!

Fiquei esperando sair a placenta, enquanto o Rafael levou a Luisa com a Shirley e a pediatra para aspirar, medir, pesar, etc. Me lembro de ter visto a placenta e pensado: Eca, que treco nojento! E nem dei bola pra ela. Rogerio me examinou e disse que as lacerações era só de mucosa e pequenas e nem precisava dar ponto. Perguntaram se eu queria me deitar ou tomar banho. Eu olhei praquele monte de sangue e mecônio em mim e respondi: Banho, por favor! Gente como eu tava com nojo naquela hora. E sou tão pouco nojenta, vai entender!

No banho, passei mal de novo, tontura e desmaio por causa da pressão que despencou, mais uma vez. Tive uns sonhos estranhos! Acordei e olhei para a cara das auxiliares e fiquei pensando: Meu Deus! Onde eu estou, o que aconteceu? Voltei para o quarto e lá estavam o Rafael e a Luisa. Pensei: Nossa foi verdade, eu pari, minha filha nasceu, eu sou mãe! Me deitei para melhorar da queda de pressão, e coloquei a Luisa no peito. Ela custou a pegar o peito, e quando finalmente pegou, foi tudo errado. Demorei para acertar a pega dela, mas ela conseguia mamar e ganhar peso bem, então não foi tão grave. O maior problema foram os machucado nos dois mamilos.

Hoje Luisa tem 1 ano e 8 meses e ainda mama, e muito!

Considerações:

- É importante se informar bem antes e durante a gravidez, você pode não ter a mesma sorte minha. As chances são de que não tenha mesmo!
- Parir mudou minha vida e pra muito melhor! Super recomendo!
- Faça plano de parto, e brigue para ele ser cumprido! Mas brigue antes, porque na hora você talvez nem se importe com nada.
- Depois descobri que meu TP ativo durou 4h. O mesmo tempo que minha mãe levou para dilatar 4 cm. Por isso não acredito em falta de dilatação genética! Cada parto é um. Cada mulher é uma. Cada corpo é um único!

Boa sorte com seu parto!


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Amo ser mãe, mas odeio o isolamento, a solidão



Eu não escolhi ser mãe. Assim como se escolhe uma carreira, como se almeja um sonho na vida. Eu tinha um ideal de maternidade completamente fora da realidade, pois nunca me ocupei de conversar com quem vivia a experiência na pele e saber como era tudo.

Ou, na verdade, desprezava os relatos negativos que surgiam, imaginando serem apenas uma exceção, um ponto escuro no mundo cor de rosa que a maternidade seria. A cada lamento materno que porventura vinha a ouvir, eu oferecia meus melhores trejeitos de desdém.

Nunca tinha reparado nos detalhes. Nas mães recém paridas que eu visitara e em seus bebês. Os cabelos despenteados, geralmente mal presos de qualquer forma, as roupas manchadas e amassadas, a cara de cansaço, os bebês que ou mamavam ou choravam ou dormiam num carrinho ou berço ou colo. As visitas duravam coisa de pelo menos 15 ou 20 minutos, e isso não era tempo suficiente para me aprofundar em nenhum detalhe. E assim segui até o dia em que a menstruação atrasada indicava que a maternidade ocorreria para mim.

Tinha 25 anos, e praticamente no dia do meu aniversário eu peguei o meu primeiro positivo nas mãos. Eu não sabia o que sentir. Estava em um momento da vida em que os planos todos levavam a direção contrária de ter um filho. Alguém inclusive me lembrou disse com essas palavras "Isso não é hora de engravidar, né?". Não era! Mas e daí? Que opções eu tinha? Eu só tinha uma opção: encarar esse novo mundo.

A primeira coisa que fiz, viciada em redes sociais que já era, foi encontrar uma comunidade no falecido Orkut que falasse sobre gravidez, parto e maternidade. E lá eu encontrei uma comunidade enorme, de mães, grávidas e tentantes, que tinham respostas para quase tudo, tudo muito científico, embasado.

Lia muito, daquele e de outros grupos. Fiz minhas escolhas, tomei minhas decisões, baseado no que eu já queria, no que eu já pensava e nos conselhos e dicas daquelas mães.

Porém, mal podia imaginar eu o que a maternidade nos reserva. De pessoas complexas, passamos a um título: Mãe. De seres humanos sociais, passamos a ser reconhecidas por apenas um papel: Mãe.

A maternidade me caiu como uma luva, nela me encontrei. Me vi realizada em desempenhar este papel, em cumprir essa função, que eu nunca imaginei que pudesse ser tão desafiadora. Apesar de todo cansaço, das noites mal dormidas, das dores, das lágrimas, foi ao me tornar mãe que me tornei completa, enquanto mulher, enquanto pessoa. Não digo que seja assim para todas as mulheres, para todas as pessoas. Não tenho objetivo de regrar a humanidade pela minha experiência. Estou falando de mim e do meu sentimento em relação a esta experiência na minha vida.

Contudo, a maternidade me isolou do mundo. Pois o mundo não tem lugar para as mães, porque não sabe lidar com bebês e crianças. Para a sociedade, é inadmissível que uma pessoa adulta, deixe de ser produtiva, economicamente falando, para ser cuidadora. E com isso, reserva, principalmente às mães, que são as que gestam, parem, aleitam e precisam de seus corpos para se dedicar a isto e precisam de tempo para se recuperar fisica e emocionalmente disto, o espaço do isolamento, do abandono.

A mãe se vê, então, presa, sozinha. A sociedade condena a amamentação em público, diz para a mulher que opta em amamentar que se isole, se cubra, se esconda. A sociedade não tolera o choro dos bebês, o grito das crianças e limita sua participação a espaços definidos para crianças apenas. Ou, quando não e possível segregar, humilha seus pais, e principalmente suas mães, por estarem ali, por não "fazerem nada a respeito".

Todos sempre tem uma opinião sobre o que a mãe está fazendo de errado. Mas ninguém oferece incentivo quando está mãe está acertando. E há muito julgamento para cada escolha desta mulher, mas nenhum apoio para que ela seja bem sucedida.

Portanto, ao termos filhos, o mundo claramente nos coloca em um cantinho reservado para sermos mães. E, além de nós mesmas, não se lembra que antes de tudo somos também pessoas, e que importamos.


Metáfora: mulher procurando seu lugar no mundo após ter um filho


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Organizando-se

Chega o fim do ano e as expectativas para o próximo ano começam a brotar de forma bagunçada em forma de enxurrada na mente, não é mesmo?

Que tal, então, começar o ano de forma organizada previamente? Estão na moda os fantásticos "planners", uma espécie de agenda personalizada que alia atividades domésticas a profissionais em um só arquivo, que pode ser impresso em casa mesmo, do tamanho que mais lhe agradar.

Existem designers que os criam e comercializam via download, e são mesmo lindos e irresistíveis, mas vou dar uma dica para quem não tem problema com um planner com títulos em inglês:

O Blog The Handmadehome disponibiliza, todo ano, um planner inteirinho e gratuito para download. Este ano em dois tamanhos A4 e A5, basta clicar nos links (destacados em azul) e imprimir ou salvar os PDFs. Tem desde a capa até planejamento de homeschooling, pra quem é adepto desta prática. E são lindos! Com opções variadas de design.

Mesmo que você não tenha um domínio do idioma americano, é possível utilizar o planner, ainda assim, colocando etiquetas com as palavras traduzidas sobre os títulos, por exemplo.

Você ainda pode optar por imprimir em casa ou numa gráfica, encadernar e encapar ou simplesmente colocar em um fichário bacana. Se optar pelo fichário, pode inclusive imprimir os arquivos conforme a necessidade ao longo do ano, minimizando os gastos do orçamento apertado do fim do ano.

Eu gostei tanto de todos os designs que imprimi as três versões disponibilizadas e criei uma agenda para cada ocupação minha: a casa e a família; o ateliê de costura e meu trabalho voluntário com amamentação.


Espero que você também divertir-se ao se organizar para o próximo ano, deixando planejado tudo o que for possível, liberando, assim, mais tempo para simplesmente curtir as coisas boas que a vida lhe trará!

Boas festas e feliz 2016!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sobre crianças reservadas e autismo

Quando eu era criança, e eu era considerada tímida, fechada, séria. As pessoas me cobravam que eu falava pouco, falava baixo, era muito envergonhada. Na adolescência recomendaram que eu fizesse curso de teatro, que ajudaria, e realmente ajudou. Passei a conseguir me relacionar melhor com o mundo, conseguia explicar melhor o que se passava na minha mente consigo conversar com as pessoas, sem ter vontade de me esconder e sair correndo, passei a aceitar a convivência com os iguais, e tive então uma adolescência normal, uma vida adulta normal.

Se fosse hoje em dia, quem aposta aí que eu receberia um diagnóstico de autismo? Porque eu evitava o contato olho a olho, porque eu não me comunicava como "esperado"?

Me assombra, a quantidade de pedagogos, insinuando que crianças saudáveis, apenas tímidas, possam ter autismo "dos mais leves" só porque preferem brincar sozinhas, do que com outras crianças, só poque nem sempre conversam quando interpeladas.

Aí apavoram os pais, e saem com as crianças a fazer um milhão de consultas e exames na tentativa de fechar um diagnóstico.

Sim, existem crianças autistas, com vários espectros de autismo, que precisam sim de tratamentos. Mas seria bom que evitassem o temporal de insinuações e indicações de algo do qual nem se é especialista sobre